Era uma vez um rei, cujos domínos se estendiam por terras tão longínquas que se costumava dizer que em seu reino o sol jamais se punha. Este rei tinha riquezas imensuráveis: os mais belos diamantes que já saíram das minas; os mais produtivos pomares, cujos frutos possuíam a doçura do mel; o gado que vivia em seus pastos era viçoso e se reproduzia extraordinariamente.
Tudo que o rei desejasse, imediatamente um súdito aparecia para satisfazê-lo, pois para coroar sua boa fortuna, ele ainda contava com o amor de seu povo, que ele governava com mansidão, coisa rara naqueles tempos.
Tudo estaria perfeito, não fosse o fato de o rei ter um filho, um jovem forte e bonito, criado com as mais finas iguarias que as terras reais produziam, sempre trajado com as mais ricas sedas e tafetás e ornado de jóias especialmente desenhadas para ele. Apesar de todo este garbo, o filho do rei era um jovem triste, de uma tristeza que tira o brilho dos olhos, faz a pele amarelar e os cantos dos lábios ficarem caídos.
Todos os médicos afamados que viviam no extenso domínio do reino foram chamados. E nada da tristeza do jovem príncipe ser curada. Tentaram de tudo: poções feitas com ervas quase desconhecidas, invenções de alquimistas, benzimentos e tudo o mais que o engenho humano pudesse conceber. O rei percebeu que se aquela tristeza não fosse debelada o seu filho morreria.
Certo dia, quando todos no palácio já desesperavam, uma mulher de idade muito avançada apareceu nos portões, pedindo, por favor, um caldo quente que ajudasse a aquecer o seu velho corpo. Ela ouviu falar da doença do príncipe. Segredou à cozinheira que só uma coisa poderia curar o jovem: deveriam vesti-lo com a camisa de um homem feliz, cuja felicidade viesse do âmago e pudesse ser comprovada.
Então, o rei decidiu dar uma enorme festa, que duraria o prazo de seis meses, para que todos os nobres e o povo, todos os seus súditos viessem ter ao palácio e, assim, o rei descobriria um ser verdadeiramente feliz, compraria sua camisa e a vestiria no filho que morria lentamente, salvando-o.
A empreitada animou a todos, criou-se uma estratégia de investigação. Desse modo, a cada pessoa que chegava à festa o rei ou um seu encarregado perguntava: "E então, senhor duque, está feliz com seu ducado, com seus pastos e negócios?" Um a um, todos respodniam que sim, estavam felizes. Então, se propunha a estas pessoas: "E não quer vir morar no palácio, desfrutar de todos os tesouros do rei?" E a resposta gelava o coração do rei: "Claro que sim, então eu seria verdadeiramente feliz".
Os meses se passaram e ninguém conseguiu satisfazer a condição de felicidade proposta pela velha mulher. O rei, angustiado com a perda iminente do filho, que já estava só pele e osso, saiu a passear no campo, nos arredores do palácio. Repentinamente, ouviu um homem cantando a plenos pulmões, uma melodia tão alegre que até o sol brilhava mais intensamente. Um frêmito de esperança encheu o coração do rei e ele seguiu na direção daquela voz.
Viu um homem que cuidava do rebanho, sorridente, vestido de um casaco grosseiro que o ajudava a se proteger do frio rigoroso. O Rei se aproximou e, apresentando-se, fez logo a pergunta: "E então, meu jovem, quer vir morar no meu palácio, desfrutar os meus tesouros?" Qual não foi sua surpresa quando o jovem respondeu: "Qual nada, Majestade, que tesouros o senhor poderia me oferecer que eu já não tenha?"
Imediatamente o rei puxou-lhe o casacão e já ofereceu: vou lhe dar um baú de moedas de ouro em troca de sua camisa. Nesse momento, o jovem gargalhou mais fortemente, ao mesmo tempo em que o rei constatava que o homem mais perfeitamnete feliz, sequer tinha uma camisa!
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